São Paulo vista através de

Na semana passada, fui visitar a exposição “Modernas! São Paulo vista por elas” no Museu Judaico, onde estão expostas fotografias da capital paulista feitas ao longo do século 20 por sete mulheres.

A expografia era fluida, sem divisão rígida por salas e sem ordem clara do sentido de visitação. Os núcleos eram organizados por autoras, divisão que só se tornava evidente para quem lia as legendas agrupadas ao final de cada parede. Privilegiou-se, desta forma, as imagens, o olhar e o olhar para a cidade.

Talvez só o início da exposição escapava dessa fluidez. Ao lado do texto curatorial e do texto institucional estavam localizadas quatro imagens e uma delas me chamou atenção por estar imediatamente ao lado do texto: a fotografia de uma estrutura de outdoor, feita por Alice Brill.

Os mais velhos talvez se lembrem dessas estruturas e da sensação de vê-las pela cidade. Isso não era comum, o mais recorrente era que estivessem cobertas por algum anúncio de loja ou de produto. Ver a estrutura assim, à mostra, era ver algo que se sabe da existência, mas que, ainda assim, surpreende.

Também permitia ver um pedaço encoberto da cidade, percebê-la por novos ângulos ou enquadrá-la como um cartão postal, como sugeriu Brill ao colocar o prédio Banespa ao centro.

Em São Paulo, a gente quase sempre observa através de algo: janelas, vitrines, lentes, grades – e agora, telas. A estrutura vazia do outdoor evidenciava o espaço que a publicidade ocupava na cidade e elevava o ver através a uma dimensão monumental.

Enquanto percorria a exposição, eu imaginava essas mulheres estrangeiras caminhando pelo centro de São Paulo com suas câmeras a postos, dialogando com algumas pessoas e ignorando outras. Pelos seus visores elas viam uma cidade emoldurada e faziam um recorte daquele cotidiano barulhento.

Conforme me deslocava, notei que a estrutura da exposição também me permitia ver através de: ao invés de paredes, os núcleos eram divididos por estruturas vazadas de madeira que, tal como a estrutura do outdoor, serviam para fixar imagens.

Se observar a estrutura por detrás dos imensos anúncios publicitários evidenciava uma parte escondida do cotidiano da cidade, talvez as fotografias expostas pudessem causar impacto semelhante.

A habilidade técnica das fotógrafas permitiu a elaboração de imagens que tratavam de um dia-a-dia corriqueiro, mas cujos ângulos, interpretações e contrastes direcionavam o olhar para além do que já era conhecido.

Para saber mais sobre a exposição: https://museujudaicosp.org.br/exposicoes/modernas-sao-paulo-vista-por-elas/

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