pinoinha

pensamentos, reflexões, reviews e o que mais der na telha

Quis escrever esse texto bem rapidinho pra relatar um causo que eu e os outros estagiários vivemos na empresa faz umas semanas. Uma crônica sobre como uma inocente escolha de palavras pode acabar por atiçar a curiosidade de gente desocupada.

Cenário

No trabalho, usamos o Jira. Essa ferramenta dos infernos que tem a incrível capacidade de fazer você perder tempo tentando organizar seu tempo e lançar suas horas trabalhadas.

O Jira tem tudo: as tarefas que precisamos cumprir, quem está responsável por elas, os detalhes da tarefa, comunicação entre as equipes... então já viu, passamos uma boa parte do tema olhando pra aquela tela branca e azul. O que significa que, de vez em quando, todo o nosso tempo gasto ali é recompensado.

Premissa

Era uma tarde qualquer de um dia de trabalho monótono quando eu e outros estagiários estávamos no famigerado Jira, dando uma olhada. Eis que pelo mais puro acaso notamos um detalhe. Um detalhe que custaria nossas tardes daquele dia de verão.

Na tarefa, o nome e foto de quem a criou. No entanto, à esquerda do início de seu nome estavam as seguintes palavras: “[NUNCA ATIVAR ]”. Não se pode fazer uma coisa dessas, é uma covardia mexer com a curiosidade dessa maneira.

Fofoca? Quero.

Pois bem, passamos algumas horas pesquisando o nome do dito cujo em todos os sistemas da empresa. Nós tínhamos que fazer isso, porque não é possível que, de alguma maneira, colocar “[NUNCA ATIVAR]” é algo feito por acaso. Não. Não tem a mais remota possibilidade desse cara ter sido só um funcionário normal! Ele tem que ter feito algo muito extremo dentro da empresa pro pessoal achar razoável deixar explícito pra quem olha no sistema que nunca se deve ativar o usuário dele.

Então, fomos averiguar com nossa chefe. Ela sempre foi muito tranquila e aberta, e dessa vez não foi diferente. Mas, pra nossa surpresa, ela também não fazia ideia de qual crime terrível havia sido cometido nos corredores da companhia.

A revelação decepcionante

Através da nossa chefe conseguimos chegar em pessoas em cargos mais altos (sim, uma fofoca completamente besta de estagiários chegou nesse nível) e tivemos a revelação: o tal “[NUNCA ATIVAR]” não tinha nada de interessante.

O que acontece é que a empresa reformulou como usava o Jira há alguns anos, e aí recadastrou váries funcionáries no sistema. Acaba que isso gerava alguns conflitos na hora de usar (“qual desses dois perfis com o mesmo nome é o correto?”), então a equipe de infraestrutura só quis deixar muito explícito mesmo.

E assim acabou nossa aventura, e nossa sexta-feira improdutiva. Valeu a pena? Não sei, mas se de fato houvesse algum segredo que estivéssemos revelando teria valido.

Esse texto vai ser mais um fluxo de pensamento e reflexão que qualquer outra coisa. Nada aqui tem a pretensão de seguir um fio lógico/racional ou “solucionar” quaisuquer problemas que eu esteja tendo. É mais um desabafo e uma tentativa de expressar em palavras o que eu venho pensando.

Meu primeiro emprego

No final de 2021 eu consegui meu primeiro emprego. Fui professor de Python durante alguns meses, de dezembro de 2021 até março de 2022. Foi um período interessante, e uma ótima experiência. As razões que me levaram a sair da empresa são algumas e talvez mereçam sua própria postagem.

Mas o foco aqui não é o emprego em si, mas sim uma consequência direta de estar empregado: receber um salário.

Eu não consigo descrever a felicidade (ou seria êxtase?) que eu senti quando abri minha conta e lá estavam singelos 1200 reais. Eu trabalhava como MEI e estava em treinamento, então a quantia não era exorbitante. Mas ainda assim, eu nunca tive tanto dinheiro na minha conta antes. E mais: dinheiro que era só meu. Sem ser algo que meus pais me deram ou algo do tipo. Eu ganhei aquilo. E eu podia fazer o que quisesse com ele.

O primeiro salário acabou… rápido. Um jovem com dinheiro na conta e muitos desejos de consumo não satisfeitos faz maravilhas em alguns dias. Comprei presentes, comprei coisas pra mim, saí pra comer com minha companheira por puro capricho. Só parei quando o dinheiro acabou.

Mas mal sabia eu o que estava por vir.

O segundo salário

Ok, eu sabia que eventualmente o segundo salário viria. Mas não é o segundo salário em si de que tô falando.

Quando eu recebi o PIX da empresa eu não pudia acreditar. Eu abri minha conta pra conferir. Era real. Eu agora tinha mais de dois mil reais na conta.

E se antes eu comprei até o que não podia… as coisas escalaram um pouco.

Eu gastei mais da metade do dinheiro em pouco mais de uma semana. Mais presentes aqui e ali, mais saídas pra lugares um tanto mais caros do que deveriam ser, mais compras. Eu lembro quando percebi o quanto tinha gasto num período tão curto de tempo. Fiquei preocupado, mas não o suficiente pra parar (afinal, ainda assim era MUITO dinheiro na minha perpectiva).

O terceiro salário foi bem parecido, com a diferença de que eu já tinha voltado às aulas presenciais e, portanto, tinha muitas mais maneiras de gastar meu dinheiro no dia-a-dia. E é aí que mora o perigo.

O fim da festa

Conforme comentei mais acima, eu saí do emprego em março, por uma série de razões. O que signfica que, uma vez que aquele salário na conta se foi, eu não tinha mais de onde tirar dinheiro. E aí coisas começaram a acontecer.

Como assim meu dinheiro acabou?!

…foi o que eu pensei quando, ao comprar um delicioso Trento torta de limão na faculdade, percebi que minha conta estava igual a antes de conseguir um emprego: vazia, fora alguns poucos reais. E aí olhei o histórico de transações, incrédulo.

Pizzaria, presente, besteiras do dia-a-dia… nada extravagante. Ao menos não individualmente. O problema é que eram muitas transações. E, lendo cada uma, eu percebi que me lembrava de todas, ou seja: todo aquele gasto de dinheiro foi deliberado, consciente.

E aí começou um processo muito difícil de aceitar que eu fui extremamente consumista e irresponsável com meu próprio dinheiro. E se eu precisasse pra alguma emergência? Esse e outros questionamentos começaram a me pairar pela cabeça.

O próximo mês seguiu como antes: recebo uma mesada do meu pai, gasto quase tudo pagando a psicóloga e necessidades básicas (alimentação, transporte público) e o pouquinho que sobra uso pra mim.

Eu era mais feliz com dinheiro?

E chegamos ao cerne da questão. Desde que eu deixei de ter um salário estável, comecei a sentir tanto estresse com relação a dinheiro! Acontece que agora qualquer saidinha pra comer que custe 20 reais por pessoa (40 comigo e minha companheira) é uma facada imensa.

Eu gostava muito de ter dinheiro porque podia fazer esse tipo de coisa com uma certa frequência, sem ter que me arrepender a cada mordida. Disso eu tenho saudade. Também queria conseguir comprar as coisas que eu quero: um fone novo, um Raspbery Pi, um domínio, um ThinkPad. E eu não consigo fazer isso agora, e não vou conseguir por algum tempo.

Mas ao mesmo tempo, o ritmo em que eu gastei meus salários foi absurdo. Definitivamente não pode se repetir para as próximas vezes, especialmente considerando um futuro (não tão) distante em que eu precise do dinheiro pra me manter sozinho. E não ter mais dinheiro me impulsiona a tentar viver os dias com menos. Até agora tem funcionado… mais ou menos.

Tenho muito pouco dinheiro na conta, mas em compensação tenho desenvolvido hábitos pra gastar menos, como levar comida de casa pra evitar ficar gastando na faculdade.

Então pra responder a pergunta desse tópico: eu definitivamente tinha mais poder quanto tinha dinheiro. Podia fazer mais coisas, ajudar mais pessoas. Isso eu espero recuperar.

Mas a sensação de gastar tudo tão rápido me deixava bem chateado. Me fazia sentir mal, muito mal. Pelo menos não tenho mais ela agora…

Além disso, um detalhe é que tudo que eu planejava comprar conforme comentei acima eu não consegui. Nem uma das coisas, apesar de ter o dinheiro pra tal! Ou seja, atrasei minhas metas sem necessidade alguma.

Meus próximos passos

Essa é fácil:

  • conseguir um estágio
  • comprar meu ThinkPad (+ o que der)
  • aplicar as lições que aprendi pra enconomizar dinheiro
  • lucro (será?)

Recentemente, no Centro Acadêmico de que eu participo, começamos finalmente um projeto de longa data: ensino de programação pra crianças e jovens de ensino fundamental e médio! Queria compartilhar um pouco sobre como tem sido a experiência.

Expectativas

Eu estava extremamente apreensivo com como seria o projeto. Tivemos um pico de inscrições nos três dias anteriores ao início das aulas, mas antes disso o desespero batia muito forte porque tínhamos menos de 10 alunos inscritos e cerca de 30 professores e monitores.

Imagina só! Meses de preparação, conversando com professores sobre a ementa, batendo datas, organizando material, etc. pra no final ter falta de aluno! Tivemos MUITA sorte que de última hora uma entidade nos contatou e aí sim tivemos o mencionado pico. Eu sinceramente não sei o que faríamos sem eles, são os verdadeiros salvadores desse projeto.

De qualquer maneira, minha apreensão não acabou por aí. Beleza, conseguimos alunos, mas e se os professores forem ruins? Nós não fizemos processo seletivo, porque é beneficente e já tem pré-requisitos que a maioria das pessoas não se arriscaria a contrariar, como… bem… sabe programar em primeiro lugar.

Mas esse medo é constante, admito. A maioria dos voluntários é mais próxima de nós, então confiamos e sabemos que mandam bem. Mas e o restante do pessoal? Imagina se não têm didática! E se falarem algo errado durante a aula? Enfim, problemas clássicos de se trabalhar com quem não conhecemos.

Realidade

E a realidade veio e bateu na cara. Bateu forte. As primeiras aulas começaram nesta semana, mas eu já posso dizer… está sendo um sucesso!

Os estudantes são extremamente engajados, sempre tirando dúvidas, sugestões, pedindo pra repetir, etc. garantindo a participação na aula! Além disso os monitores têm sido super atenciosos e solícitos, é difícil achar um horário em que não tenha nenhum disponível pra ajudar as crianças. Sinceramente todo mundo está de parabéns até agora.

Alguns problemas aparecem, obviamente, mas nenhum que não tenhamos conseguido resolver. Eu sou uma das pessoas mais exigentes (as más línguas diriam chata…) da organização, então sempre anoto o que estamos fazendo de errado pra que possamos melhorar no dia seguinte. Como o curso é intensivo, temos sempre que agir depressa.

Conclusão

Este é, sem dúvida alguma, um dos melhores e mais gratificantes projetos de que eu já participei na faculdade e na vida. Como é bom ver as coisas dando certo e aquele monte de jovens em vulnerabilidade gostando de programar. Espero de verdade que consigamos ajudá-los a traçar os primeiros passos pra que depois corram uma maratona inteira.

Ultimamente eu tenho tido um pouco mais de inspiração pra escrever. Isso por alguns motivos, e a maioria deles introspectivos.

Eu tenho assistido bastante Castlevania, animação (ou anime?) da Netflix. É, sem dúvidas, uma das melhores animações que eu já vi em toda a minha vida. A história cresce, os personagens crescem e você cresce junto. Me lembra histórias como Fullmetal Alchesmist, no sentido que as coisas lentamente escalam e começamos a compreender os grandes esquemas, maquinações e complexidade de tudo que acontece perante nossos olhos.

Os personagens são incríveis, você consegue se relacionar, ver o mundo pela ótica deles e entender o que os leva a fazer o que fazem. Nenhum deles é inteiramente bom, mas alguns tentam e por vezes conseguem. Outros falham terrivelmente. Mas, no final, eles são humanos. Pessoas que erram e são vítimas, embora eles mesmos façam vítimas.

Não me entenda mal, não endosso nenhuma das ações imorais que os vampiros, humanos e monstros fazem, pelo contrário! Eu acho fascinante como vários dos personagens retratam pessoas que sofreram muito, estão cheias de traumas, dores e tristeza e isso acaba sendo a grande faísca pra que façam as coisas horríveis que fazem. Foram machucadas, e portanto machucam outras. Muitas outras.

E não é assim que funciona no mundo real? Quantas vezes nós não magoamos e ferimos quem amamos porque estávamos num momento difícil? Claro, eu não sei você mas eu nunca fui violento, nunca causei uma fração do sofrimento que esses personagens causam. Mas você consegue entender, minimamente. São pessoas que reagem de maneira extremamente exagerada por conta do medo, do trauma, do sofrimento que passaram. Figuras extremamente tristes, trágicas, mórbidas…

… e mesmo assim você quer saber mais delas. O quão longe elas irão, até que ponto vão chegar, quanto sofrimento vão causar aos outros e a si mesmos? É quase uma curiosidade mórbida. As primeiras duas temporadas são uma lenta decadência, cheia de tristeza, raiva, mágoa. Uma espiral de melancolia que leva você fundo. Pra muito abaixo da terra.

Apesar disso, vem a terceira temporada. Personagens bons começam a se tornar cinzentos. O mundo mostra suas verdadeiras presas e do que as pessoas são realmente capazes. Guiadas por ambição. Por medo. Por traumas. Os mesmos temas que foram apresentados nas primeiras duas temporadas, veja só. Mas mais profundos, complexos, gritantes.

Dito tudo isso, uma série puramente depressiva e melancólica precisaria ser muito, e eu repito, MUITO boa pra me convencer a continua assistindo. Eu tenho um limite pra dor, pra sofrimento, pra tristeza. E ele não é tão alto assim. Mas, pra minha surpresa, Castlevania desenvolve tudo isso muito bem! Os personagens, os temas, o propósito… tudo é conduzido como uma orquestra. E faz mais! No meio de tantos temas pesados, difíceis, por vezes intragáveis, ele entrega coisas novas: gentileza. Solidão. Confiança. Amor. Amizade.

E você se pega não mais querendo saber só os limites mórbidos, inumanos que as coisas podem alcançar. Não. Você começa a torcer pelos personagens, pra que se tornem pessoas melhores, pra que atinjam seus objetivos, pra que se encontrem. E, não sei se ocorre com a maioria das pessoas que assistem, mas eu me identifiquei mais do que nunca com alguns personagens. Eu me senti representado, vi clareza. Clareza que nem sempre veio pra bem, afinal esse início de semana também tem sido palco pra uma terrível crise existencial (quem sabe um outro texto?).

E, no final, nós retornamos àquilo que esses personagens são, o que representam: seres humanos. Pessoas. Pessoas que, no fundo, são como eu e você. Pessoas que choram, que sofrem, que querem algo melhor pra si mesmas.

Mas também pessoas que se autodestroem. Que ficam presas em seus traumas e se isolam do mundo; que esquecem quem são e cometem atos de desespero contra os outros em busca de sua identidade. Ou, ao menos, o que acham que é sua identidade. Pessoas trágicas, afinal. Algumas se reerguem, outras fica, no chão; outras ainda cavam uma cova mais funda.

Enfim. Castlevania é uma obra com personagens complexos e temas complexos, e eu recomendo fortemente que você assista. Pode começar sem compromisso, com ceticismo e suspeita. Afinal, esse texto é extremamente pessoal! Mas não assista de cara se tiver um problema com gore, morbidez, tristeza, e outros tantos assuntos que abordei.